Educação

Ensino Médio em novo formato completa seis meses

Itinerários formativos ganham aprovação de alunos do primeiro ano, mas ainda são desafio para os professores

Jô Folha -

Desde que foi implementado, há seis meses, o novo Ensino Médio é uma realidade nas escolas públicas e privadas do Brasil e tem sido considerado "interessante" por quem vivencia os primeiros passos. Pelo cronograma nacional, alunos do primeiro ano são os primeiros a experimentar a mudança que une a Formação Geral Básica - para todos os alunos - e os Itinerários Formativos, que permitem a escolha pela área de maior interesse ou habilidade com vistas a aprofundar os conhecimentos. Para os jovens, a autonomia é o ponto positivo. Já para quem trabalha na formação dos professores, esse novo formato é visto com preocupação e muitas falhas.

Marco Antônio Pedro Veleda Júnior e Guilherme Dutra Munhoz, ambos com 15 anos, cursam o primeiro ano do Colégio Municipal Pelotense e consideram interessante o poder de escolha. "São duas disciplinas que podemos optar a partir do que gostamos", diz Guilherme. Entre os temas oferecidos estão Ciência, Saúde e Meio Ambiente, e Cidadania, Ética, Trabalho e Tecnologia. Sobre a carga horária, os alunos agora têm 45 minutos a mais de aula pela manhã. Isto porque a Lei 13.415/17 passou a exigir uma carga horária de mil horas/aulas por ano e não mais 800. "No ensino geral, notamos apenas que houve uma redução nas disciplinas de Geografia e História. Nas demais, nos parece normal", comentam os dois estudantes do Pelotense.

A Secretaria Municipal de Educação e Desporto (Smed) explica que, para chegar às referências curriculares, foram feitos diversos estudos no ano passado com a equipe diretiva, coordenação pedagógica, corpo docente e discente, além da regulamentação junto ao Conselho Municipal de Educação, que autorizou a matriz curricular atualizada. Já os itinerários curriculares do colégio foram definidos por meio de pesquisa com os alunos do nono ano do Ensino Fundamental, que ingressaram em 2022 no Médio. Processo esse que, na opinião da professora da Faculdade de Educação da UFPel, Valdelaine Mendes, deveria ter sido feito em 2016, quando da elaboração do novo Ensino Médio, ou seja, ter sido aberto ao debate com todas as classes da área da educação, ao invés do que considera uma imposição.

De acordo com a especialista, as redes de ensino têm autonomia para organizar, a partir das grandes matrizes (Linguagens e suas Tecnologias, Matemática e suas Tecnologias, Ciências da Natureza e suas Tecnologias, Ciências Humanas e Sociais Aplicadas) e da formação técnica e profissional, projetos que irão ser oferecidos aos jovens dentro de uma carga horária de 1.200 horas/aulas. "A tendência desse modelo é precarizar a formação do aluno, pois pela Constituição e pela LDB a educação básica é um grande bloco que reúne alunos de zero aos 17 anos e pressupõe-se a garantia a um conjunto da sociedade uma educação que vai ser universal, acessível a todos e de forma equilibrada, porque nunca teremos igualitária", observa.

A reforma, avalia a especialista, altera a lógica da educação básica, pois o aluno, com seus 14 ou 15 anos, terá que escolher por uma carga horária maior para itinerários formativos que podem ser totalmente limitados pelo cenário atual dos trabalhadores em educação. "Há precariedade na formação de professores, há falta de investimentos nas escolas, o que as tornariam mais atrativas e garantiriam a permanência do aluno dentro do educandário." Tal situação, para a professora, pode aprofundar a desigualdade da educação no Brasil, uma vez que matérias que não estão entre as grandes áreas serão diluídas em 1.800 horas/aulas prejudicando o aprendizado de conhecimentos necessários. "Imagina as lacunas na formação dessa juventude para poder entender o mundo que vivem", questiona Valdelaine.

No Estado
Liriel da Rosa Garcia, 17, está em uma turma da noite do primeiro ano do Médio no Instituto Assis Brasil. Ela ainda não precisou escolher qual das áreas irá seguir, mas está decidida: "Vou optar pelas humanas". De acordo com o Departamento Pedagógico da 5ª Coordenadoria Regional de Educação (5ªCRE), neste primeiro ano são três disciplinas do itinerário formativo: Projeto de Vida, Mundo do Trabalho e Cultura e Tecnologia Digital, disciplinas que Liriel já experimentou e gostou. No dia 12 de agosto haverá encontro entre as coordenadorias de Pelotas, Bagé e Rio Grande para organizar a forma como será realizada a consulta aos alunos para escolha do itinerário formativo para 2023, em que os estudantes escolherão duas áreas principais de dedicação dos estudos.


No Estado, a preparação dos professores ocorre paralelamente à implementação do novo modelo. A diretora do Departamento, Marismar Silva, informa que estão sendo ofertados desde o segundo semestre de 2021 formações para as disciplinas do itinerário, sendo que ao longo deste primeiro trimestre foram intensificadas através de lives na TV Seduc e de curso de formação remoto pelo Portal da Educação, havendo previsão de mais atividades no modelo híbrido para o segundo semestre, em Projeto de Vida.

Ensino privado
O Sindicato do Ensino Privado (Sinepe/RS) explica que há flexibilidade para que as escolas particulares optem pelo caminho que acharem adequado. No entanto, orienta foco maior na Formação Geral Básica este ano, deixando os itinerários formativos para 2023 e 2024. "As escolas estão implementando, mas a carga horária é menor da que será aplicada nos próximos dois anos", destaca o vice-presidente Oswaldo Dalpiaz. Entre as vantagens com a mudança do Médio, ele explica que a rede privada estadual já vinha trabalhando com margem maior de horas/aulas, com 2.800 para os três anos, faltando pouco para atender à Lei de 2017.

"Com o retorno das aulas presenciais, após quase dois anos online, criou-se grande preocupação sobre a capacitação dos professores para lidar com esse novo modelo de educação", observa Dalpiaz. O dirigente sindical projeta que, se as escolas conseguirem aplicar o que fundamenta o novo Ensino Médio e se os alunos abraçarem a proposta, será interessante. "Mas só teremos respostas a longo prazo", conclui.

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